Papo de Vitrola

em mares

todo dia uma maré.

tem dias que eu acordo e me sinto muito feia. feia como muitos já me disseram que eu era. acordo e penso “hoje é dia de acreditar neles. aqueles dias”. eu odeio esses dias. eles parecem que nunca tem fim. eles vivem beliscando meus calcanhares.

tem dias que, não. tem dias que eu acordo e já na primeira luz da porta do quarto eu sei que o dia inteiro vai estar bonito. que toda essa luz vai me abraçar e eu vou me sentir assim, luz, brilho. vou rir mais, ser mais sociável, falar mais e pensar menos.

com o tempo vou aprendendo a moldar meus dias ruins. ser menos, como se diz? aquela coisa de quem se entrega, se deixa levar. não sei o nome da palavra. quando eu entro no mar eu não vou deixando a onda fazer o que quiser comigo. eu fico atenta, e saio se vejo que o mar não está favorecendo meu controle. é tipo isso: você tá se molhando, sendo puxado, mas ainda sabe onde está a areia.

afinal, quem quer morrer afogado?