Papo de Vitrola

Como ficar invisível nas redes sociais – mesmo que você não queira

Comentei outro dia numa rede social sobre meu primeiro blog, que foi um weblogger. Comecei a blogar em 2004, por solidão e também por ser um antigo desejo desde a adolescência, de quando nunca havia tocado em um computador conectado à internet. Estava grávida do meu primeiro filho, e transbordando em uma necessidade (hormonal?) de compartilhar, criei sem muita pretensão meu primeiro blog.

Várias seguidores relembraram no post outras plataformas de blog da época: Blig, Zip.net, Cutenews, Livejournal, entre outras. Blogs viraram acervo de nostalgia e eu continuo aqui, agora com um filho de quase 18 anos (que acreditem se quiser, é absurdamente low profile). Continuo escrevendo no ímpeto da solidão e no desejo de compartilhar coisas seja lá com quem ainda estiver lendo.

Eu ainda leio blogs. Leio o blog da Fernanda Rodrigues, por exemplo, as newsletters da Aline Valek e também o blog da Carla Soares, que é um dos meus favoritos. Outro dia queria reler um texto que a Carla escreveu sobre uma PANC específica e então joguei no google: outra cozinha + nome da PANC. Algo que eu fazia muito antigamente, mas que agora parece algo obsoleto.

Quando produzo algum conteúdo pra Instagram ou TikTok, desconheço mais do que deveria sobre como funciona o algoritmo. Ajo com um pensamento engessado, teimoso, preguiçoso, quero fazer o que eu quero, no tempo que quero e não da forma como o algoritmo quer que eu faça, mesmo consciente das consequências disso: ficar invisível.

Tenho impressão que produzir para blogs (ou até mesmo para uma comunidade de vídeos mais longos tipo o Youtube) nos fazia mais presentes “organicamente”, uma conexão que parecia mais sólida e praticamente sem intervenções. Nada impossível de obter hoje em dia, porém mais difícil, mais truqueiro, mais dependente de um manual quem nem todo mundo tá disposto a ler por espontânea vontade. Precisamos consumir muito conteúdo (e infinitamentee) para aprender como se faz conteúdo. Senão você evapora e isso os números não deixam mentir. Persistir ou desistir, ainda que persistência não seja o suficiente. Precisamos de um propósito e de consulta às nossas emoções: por que e para que eu faço o que faço?

Da pandemia para cá, tudo que favoritei virou uma montanha de coisa nenhuma. Não encontro nada que achei interessante e salvei, pois a atividade intensa soterrou a utilidade. E é muito mais difícil encontrar algo apenas jogando no Google “nome + palavra chave”: existem mais chances de você cair numa matéria jornalística com paywall do que qualquer outra coisa. Passei por isso outro dia procurando uma simples receita. Desisti. Fui pro Youtube e encontrei o que queria.

Em um vídeo recente, a videomaker e editora de vídeos Alice Portugal explica como a presença online tem mudado de 2019 pra cá, e que após um período muito fértil de vídeos curtos em plataformas como Tiktok, há estimativa de retorno a produção de vídeos longos para o Youtube, por exemplo – e o próprio TikTok já nos deu uma amostra desta tendência, com a possibilidade de upload de vídeos de até 3 minutos na plataforma.

Não sei se devemos esperar que o retorno do consumo mais “lento” resgate a conexão entre produtor x seguidor, já que, quando se trata de internet, tudo pode mudar a todo tempo. Por enquanto, abro o Instagram e o Tiktok e sei que nunca mais verei aquela moça montando um look com botas verdes ou aquele rapaz dançando com um gato. Virarão poeira em breve nas minhas lembranças. Aos poucos – ou talvez rápido demais – flertamos sem muito planejamento com uma forma tecnológica de desaparecer. E não será esse o destino de todos nós?