Papo de Artista, Papo de Vitrola

A história de um projeto colaborativo que foi parar no Senac

Caixinha de surpresas, vida cíclica ou sei lá o quê: o importante é que as coisas da vida tão aí pra mostrar serviço mesmo

Falando um pouco do que nos traz orgulho, não poderia deixar de mencionar a trajetória da primeira vez que ilustrei um livro.

Fazendo um breve resumo, sou nascida e criada em Duque de Caxias, na baixada fluminense do RJ. Sempre fui da galera do desenho, porém de forma autodidata, até porque nem existia isso de curso de desenho na minha cidade. O contato que tive com aula de desenho foi no máximo na TV com Daniel Azulay nas manhã de sábado e alguns poucos ensinamentos que tive com um avô postiço em Nova Iguaçu, antes dele falecer, quando eu tinha 7 anos de idade.

Na adolescência, costumava ir ao centro de Caxias – que falamos apenas “ir a Caxias, mesmo estando em Caxias, não dá pra explicar muito bem isso-, e eu sempre passava frente a uma unidade do SENAC, sonhando com o dia em que poderia fazer um dos cursos de lá. Fazer qualquer curso do Senac, entre os meus, era tipo uma espécie de “ápice” da vida estudantil: “Fulano fez curso no Senac, tá bom pra você?”.

Só que a vida tem esse clichê cíclico e dá muitas voltas, né?

Em 2016, fui convidada a ilustrar um livro, projeto da minha amiga Bia Lombardi, uma pessoa que conheci e me aproximei de forma inusitada: primeiro, após nos conhecermos no universos dos blogs, depois, numa espécie de reality show do qual participamos na Rede TV! (eu disse que a vida dava umas voltas, né? e às vezes elas são bem estranhas, mesmo.)

Livro finalizado, ninguém tinha grana para publicar, então ele foi lançado numa plataforma de financiamento coletivo: e lá fomos nós. Campanha finalizada, livro impresso, tarde de café com alguns apoiadores e amigos. Foi um dia inesquecível e que me fez refletir ainda mais sobre o assunto do livro do qual publicávamos.

Mas não era apenas isso. O universo tinha mais que imaginávamos para este projeto. Ano passado, a Editora Senac se interessou pelo livro e o queria como material de estudo, pasmem: de um dos cursos da instituição.

Queria descrever o que senti quando a Bia me deu a notícia, mas eu nem saberia como. Acho que a ficha só caiu dias atrás, quando finalmente peguei a publicação nas mãos.

Este ano coloquei meus pés pela primeira vez dentro de um Senac. Passei por uma roleta em um prédio enquanto alguns alunos adolescentes na saída do curso passavam por mim em sentido oposto. Subi o elevador, acompanhada da Bia, apreensiva em assinar um dos documentos mais importantes da minha vida. É como se eu estivesse no coração de onde tudo acontecia e confesso, me senti maravilhada envolvida com aquele cheiro de livros e publicações recém saídas do forno. Em breve, alguns traços meus estariam ali, também, junto de todos aqueles livros de gente conhecida e importante.

Esse ano também tem sido um dos mais difíceis dos quais já passei: desempregada, consequentemente sem grana, recém saída de uma crise de ansiedade da qual nunca passei antes na vida e em processo de mudança para outra cidade. Mas dentro de mim acendeu aquela faisquinha super bem-vinda e necessária de que as coisas não estão perdidas. Que algo eu estou fazendo certo e que vale a pena ter aquela paciência marota de deixar a vida fazer sua parte, também.

E aquilo que a gente já tá careca de saber: as voltas filhote, as voltas…

Ah, o livro, claro, está disponível no site do Senac para quem quiser comprar. E não é por nada, mas é um livro incrível. Agora que você já sabe a história dele, conta pra mim: qual é o projeto da sua vida do qual você sente mais orgulho? Sem modéstias aqui, eu quero é orgulho mesmo ♥