Papo de Vitrola

A “influencer” preguiçosa que habita em mim

Em tempos de tanta tática de conteúdo para alcançar multidões, ainda existe gente que não se encaixa em nenhuma delas – mas também quer ser notado

“Em meados de 2004, eu criei meu primeiro blog. Naquela época, eu perdi umas boas horas tentando descobrir como tudo funcionava, pois também era meu primeiro contato diário com computadores e internet. Eu tinha 20 anos.

Eu fiquei apaixonada. Pensava no meu blog e no conteúdo que faria nele o dia inteiro. Eu estava grávida do meu primeiro filho e tinha muita solidão e muitas sensações para compartilhar. Não haviam comunidades tão filtradas, os “nichos”, como hoje em dia. Hoje você não apenas encontra “grávidas”, mas também “grávidas apreciadoras de Keith Richards”, por exemplo. O nicho dos nichos, para a alegria e deleite da identificação – e solidão – humana.

Adoro o fato de encontrarmos “nossa galera” de maneira muito mais prática, mas odeio e não me acostumo à ideia de querermos que nossos nichos sejam gigantescos e engajados todo o tempo. Já fui criticada por simplesmente entregar um conteúdo cru, do jeito que dava pra fazer, pois minha forma relapsa não alcançaria muitos seguidores. Eu só queria compartilhar algo sem artimanhas influencer e descobri que hoje em dia, isso é inaceitável. E eu entendo.

Em contrapartida, de fato sou uma produtora de conteúdo e vendedora. Como estar presente, vender, influenciar sem usar as tais técnicas de praxe para “engajar” mais seguidores? Como ser autêntico sem cair nos clichês do “influenciarismo” ou sentir vergonha só de me imaginar fazendo algo do qual eu entendo que outras pessoas façam, mas não me identifico com elas? Já fizeram um ted talk sobre isso?

Head of a Sleeping Bacchante, Gustave Courbet – a inspiração para a ilustração deste post (Museum Collection)

Pago com muito sacrifício uma internet banda larga e um 3G no celular, uma hospedagem e tenho um trabalho de segunda a sexta que consome muito das minhas energias, conciliando com tarefas diárias de um lar com 8 pets. Acabo não tendo a disposição que gostaria nem tempo programável e prioritário para algo próximo de “quando eu tiver 50000 seguidores vou liberar um tour pela minha casa”. Penso todos os dias em formas de produzir e entregar conteúdo para os poucos que me seguem sem lidar com essas ansiedades alheias, sem ser tão prepotente e sou adepta exibicionismo equilibrado – se é que isso é possível, mas acho que não me sinto pronta a abdicar desta minha filosofia. Vivo em busca de um equilíbrio, de um umami da produção de conteúdo. Possível?

Enquanto eu não descubro essa receita equilibrada, saudável e de consistência homogênea, vou oferecendo o que posso e tentando me divertir na maior parte do processo, lidando com dúvidas e falhas aqui e acolá. Se você está lendo isso, se você se identifica, mesmo que sejamos apenas nós, eu espero que você esteja se divertindo, também. Não vamos permitir que isso sugue nossa alma como um spaguetti insosso.

A influencer preguiçosa que habita em mim, saúda o influencer preguiçoso que habita em você. Sejamos livres.

Namastera!”

Escrevi este texto para meu perfil do Linkedin, em 2019, e hoje me deparei com ele por acaso, exatamente no momento em que eu precisava lê-lo. Me fez abraçar a “eu do passado” por me fazer entender pela milésima vez os motivos que me fazem escrever mesmo que seja apenas um carta num abraço futuro.