Notas de uma inquilina
Eu já me mudei num total de, até agora, TREZE vezes. E treze também é o número da casa onde morei quando criança. Minha mãe adorava dizer que treze era a morada da sorte. E foi numa dessas expectativas de sortes numéricas que, durante a pandemia, eu decidi sair de Ubatuba, após uma década morando lá, e voltar para o Rio de Janeiro.
Eu já morei sozinha, acompanhada, meio-sozinha-meio-acompanhada, de favor, em casa emprestada, em barraco de tábuas, casa própria e atualmente, casa alugada.
Já morei com quatro pets, que agora, “viraram” oito — totalmente iludida na versão “onde cabem 4, cabem 10. Já voltei a morar com mãe por um período (quem já precisou, sabe que isso aqui renderia um texto). Já morei numa cidade onde não conhecia NINGUÉM, dividindo um quarto de pensão 3 x 2 com banheiro compartilhado (e foi incrível).
Já estive em muitas casas, e hoje em dia, entendo melhor que meu lar é um lugar onde nenhuma casa mais pode me abrigar. Meu lar é uma espécie de universo televisivo e eu sou a minha protagonista, mesmo sem saber muito bem pra onde vai esse roteiro. Eu sou minha única morada.
No filme Microhabitat, Mi-so, a personagem principal, tenta equilibrar sua vida entre emprego, moradia e prazeres, esse último, os do tipo alicerce da nossa vida. O primeiro a ser abdicado, como uma sutil crítica à nossa sociedade capitalista, é a moradia. Não de si, diferente dos amigos que a hospedam na sua trajetória: Mi-so enxergava o desmoronamento interior de cada um dos amigos, onde o exterior parecia não fazer mais abrigo, e sim apatia. Quem nunca foi aprisionado por sua própria casa?
Microhabitat, de Jeon Go-Woon
Meu apego ao lar tem motivos que vão além da proteção e existe um conceito além diferente para cada um de nós, eu presumo. Casa para mim sempre foi fruto de um trabalho muito intenso, de comprometimento, de responsabilidade e também de frustração. O desprendimento da “casa dos sonhos” demora a vir pois parece dizer sobre apatia, quando na verdade, é liberdade.
Aqui, quase 5 meses após minha 13ª` mudança da vida, eu ainda tenho coisas guardadas em plástico bolha. Meus livros ainda não possuem prateleiras e eu me sinto dividida entre uma parede desenhada ou paz na hora de uma próxima mudança. Uns diriam que é desânimo, eu diria que é por esse lento processo de entender que não preciso mais de coisas externas definindo o que é meu lar.
E você, onde mora?
Lhe entendo. Me mudei muito também.
Moro com minha mãe e irmão, e a primeira casa que me lembro, era uma loja onde minha mãe dividiu para a gente morar e ela trabalhar. Tanto que eu e meu irmão não tínhamos cama, era apenas uns colchões no chão. Só a minha avó (quando ainda viva) que tinha uma cama. Minha mãe também não dormia em cama.
Bom, moramos em diversos tipos de casa, inclusive em barracos.
Isso escreve uma trajetória muito grande para quem já viveu assim.
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Recentemente tive uma experiência bem traumática com moradia, e acho que seu texto me fez refletir sobre um ponto importante: daqui em diante quem decide o que é lar sou eu 🙂
Limonada