os escritores não são como nos filmes
Uma fase dessas aí, era “must” usar a palavra must e fazer um curso de datilografia. Porém, cresci numa família de quatro pessoas em que o foco era fazer as compras do mês no supermercado Torrebela e roupas na C&A uma vez ao ano, para as festividades. Um curso de datilografia não estava nos planos.
Lembro do meu pai argumentando que máquinas de escrever se tornariam obsoletas num futuro não muito distante dali. “em breve as pessoas terão apenas computadores”. Eu não fazia ideia de onde meu pai havia visto um computador, já que até aquele ano o máximo de contato tecnológico que eu tive foi um Pense Bem, trancafiado numa prateleira de vidro grosso em uma loja de brinquedos.
O fato é que eu acreditava que, a partir do momento que eu manuseasse uma máquina de escrever, eu me tornaria uma escritora, e vi nessa negativa um sonho derreter através dos dedos. Logicamente, em 1993 eu montava livros com um amontoado de folhas grampeadas e desenhadas por mim, sonhando com o dia que cópias – que eu não fazia IDEIA de como eram feitas – chegavam às ansiosas mãos de meus leitores-fãs, cada um com sua cópia devidamente autografada.
Os filmes sempre colaboraram para todo esse deslumbre onírico: a vida dos escritores sempre retratada com um glamour que me fazia viajar: sabáticos solitários em casas próximas a lagos, em invernos que nunca teremos (ou queremos). Máquinas de escrever à meia luz acompanhado de uma taça de vinho, normalmente no sexto andar de um prédio de uma cidade noturna e caótica. Ou um notebook com carga infinita que liga velozmente no meio da noite diante de uma inspiração.
A realidade de escrever um livro, amigos, é um chute na produtividade e um abraço gostoso e peludo na procrastinação. Desde que me propus ao meu projeto, sigo sendo estapeada por todos os clichês do escritor, desde os mais aconchegantes até os mais ridículos, sem cerimônia alguma de admitir. A marmita do dia seguinte precisa ser feita, o sono me vence durante a semana e todos os projetos acabam sendo colocados numa caixa mental para ser aberta obrigatoriamente e vergonhosamente somente quando alguém pergunta “e aí Re, e o livro?”.
QUALQUER outro projeto de visitação lunar se torna mais próximo e fácil que não seja escrever o bendito livro.
Bem. Ainda continua nos planos. Mais que o curso de datilografia.
Que louco o tempo, ne? Meu pai era jornalista, então aqui sempre fomos criados no meio de livros e palavras, aqui ainda hoje temos maquina de datilografia, herança herdada dele, e claro, computadores, eu e meu irmão com blogs, assim como papai tb teve, papai antes de falecer conseguiu realizar seu sonho de lançar livros, e fico feliz por isso, espero que oS seuS livros saiam em breve também, não desiste! :*
Quem sou eu para julgar, a própria rainha da procrastinação? Se me proponho a fazer algo diferente, pode ter certeza que na minha cabeça vai ter o plano perfeito, cronometrado, certinho, ajustado… mas vai colocar isso em prática… meu senhor Jesus!
A verdade é que temos que dar conta de tanta coisa durante o dia que, quando sobra um tempinho, a gente só quer descansar e aproveitar o ócio, né?
Rê, eu tenho certeza que eu estarei na sua noite de lançamento em breve! Adoraria ter um livro seu! 🙂 No que eu puder ajudar com a minha experiência (teórica e prática), conte comigo. Será uma honra!
Um beijo,
Fê
Quando se é mulher, esse clichê do escritor solitário na cidade noturna complica um pouco mais, já que a carga de cuidar da casa ainda recai sobre nós. Cuidar dos filhos, e toda a carga mental do cuidado doméstico e a pressão social de que mulher cuida da casa/filhos e marido supre as necessidades, tudo isso atrapalhava, além da falta de inspiração, da procrastinação, do medo.
Não é fácil, mas só nós podemos contar as histórias que queremos contar.
essa imagem de escritor que tá sempre lincada com criatividade, inspiração, é muito louca. dia de chuva com a casa limpa, acompanhada de café, é como se automaticamente meu cérebro apitasse e dissesse ‘anda, momento perfeito pra produzir! vai lá e escreve pelo menos um post’ HAHAHA
Ai, que saudade que eu tava de ler textos assim! A escritora que habita em mim tá se coçando há dias pra voltar a escrever e este post só aumentou ainda mais a vontade.
Quanto à procrastinação, entendo totalmente porque estou vivendo o mesmo com um dos meus projetos. Boa sorte pra você
Sonhei muito também com esses cenários solitários e paradisíacos ou então, como você bem lembrou, um apartamento com vista para uma rua caótica, com muito movimento, mas tão solitário quanto a torre de um farol… Mas afinal.. Quem é que cozinha para essas criaturas fantásticas? hehe
Adoro seus textos,
Beijo!