Papo de Vitrola

A feira e a cápsula do tempo

Eu não teria como começar este post de uma forma organizada. Voltar a escrever no blog me faz ter até uns “tremeliques” nas mãos. Parece até que tô escrevendo num blog pela primeira vez. E lembro muito bem quando fiz meu primeiro blog, lembro da sensação e lembro de sentir que estava realizando um SONHO de muitos anos.

E falando em sensações e lembranças, outro dia estava na feira local e me deparei com uma garrafinha de conteúdo duvidoso (porém, aparentemente lícito) dentro, mas que eu já conhecia de outros carnavais: era a famosa LARANJINHA. A nomeação da especiaria nem entra em discussões da categoria “bolacha ou biscoito”, pois aqui é laranjinha e SEQUER quero pensar que existe outra possibilidade de nome. Na sua cidade pode se chamar FERNANDO, pois aqui permanecerá no seu batismo que acredito ter sido realizado já prevendo o patrimônio cultural.

Não ache que a tesoura está ali por acaso: é pra fazer o pique no topo da garrafinha para os menos ousados. A questão sanitária são outros 500. A opção nostálgica é mordiscar o fundo da garrafinha fazendo uma saída alternativa.

E era na entrada da FEUDUC, onde estudei minha infância, que todos os dias da semana eu encontrava as famosas garrafinhas. Era o coqueluche acessível numa versão demonizada a apenas alguns passos do portão principal da escola. As mães odiavam e criavam suas próprias fake news da laranjinha, amplamente difundida entre as professoras, que complementavam o terror. Enquanto isso, a criançada saboreava fervorosamente nas típicas e intensas tardes de verão de Duque de Caxias, sem nenhuma misericórdia aos temores dos adultos. Ainda na fase da energia a todo vapor, o que só se via eram bochechinhas coradas e testas suadas de tanto correr pelo pátio, segurando a unhas e dentes (este segundo, literalmente) a famosa laranjinha, já esbranquiçada e com o conteúdo já só num gelo sambante. Acredito que todas sobreviveram. As pessoas, já não sei.

Sobre a composição, era uma mistura com poucas variações de sabor, mas obviamente não se tratava de suco de fruta nenhum. Era apenas suco em pó e MUITO açúcar e hoje em dia, acredito que tinham todos os mesmo sabor. Era o marketing da teoria da cor orientando nossas escolhas a tão cedo. Dava pra entender o motivo de ser tão demonizada, e certamente é algo que hoje em dia eu não ouso me aproximar nem pra sentir o cheiro: corro o risco de uma azia duradoura por no mínimo 7 dias, o que deve ser uma espécie de praga com efeito retardo enviada pelos adultos daquela época, suspeito.

Depois desse reencontro inesperado e de uns segundos olhando aquele isopor na feira com as laranjinhas enfileiradas, voltei a mim. Não sinto mais as dores de nostalgia pois hoje em dia já estou possuída pelas dores do presente, mas aprendi a apreciar esses momentos de doces lembranças. Nem todas elas tem um nome, né?


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