Toma conta da sua vida
Podemos chamar de "autocuidado", mas eu também gosto de "egoísmo homeopático". O sabor umami do zelo por si, nem doce, nem salgado, apenas suficiente, e que bem dosado, não causa mal a quase ninguém - e se você leu o final lembrando ou cantando a música do Lulu Santos, deveria praticá-lo mais vezes.
Minha mãe adorava dizer a expressão “não pode desvestir um santo para vestir outro”. Eu acho cheia de potencial, pois quando criança eu dava risadinhas, imaginando o outro santo peladinho. Hoje em dia, infelizmente não acho mais tanta graça, pois entendi que o outro santo pelado… sou eu. Sou eu quando, na maioria das vezes, não preservo o direito de ser assim oh, um tiquim egoísta, só pra não salgar demais.
Tem um conselho que eu adoro dar, e que obviamente, não sigo. É de quando um amigo está muito carente, uma vibe “ninguém se preocupa comigo“, mas que TAMBÉM serve para a versão “tá todo mundo MUITO preocupando com minha vida” que é: então cuida da sua vida você também. E não é um crítica, é uma constatação. Quem assim não está, está fazendo errado. É isso que as pessoas estão fazendo em maior parte: cuidando de suas próprias vidas.
É lógico que não vou me sentenciar aqui, acho que a gente aprendeu um pouco errado sobre autocuidado, essa coisa meio “vamos todos dar as mãos com coroa de flores e cantarolar.” Isso não é autocuidado, isso é Midsommar¹. Autocuidado não precisa ser bonito pro mundo inteiro ver, precisa ser efetivo em nos fazer bem, ou pelo menos nos poupar do azedume, eu acho. A premissa é simples, o fandom é que fica meio perdido.
Nisso tudo ainda tem um bônus satisfatório: ver alguém que a gente ama se cuidando. E mais deprimente e frustrante, eu diria, é o inverso. A parte empática do egoísmo homeopático sequer fica de fora, e deveria ser a segunda mais incentivada do autocuidado, “estar bem, segundamente, para quem REALMENTE se preocupa com você, e REALMENTE te quer bem”.
se cuidem aí e sejam egoístas. ninguém vai estar reparando 🙂
¹Midssomar é filme dirigido por Ari Aster, lançado em 2019, que mistura belos cenários de natureza com cenas brutais de terror psicológico.
Oi, Re!
Esse post me fez pensar muito na dinâmica da máscara de oxigênio no avião… Eles são sempre enfáticos: coloque a sua primeiro pra depois ajudar o outro. Isso vale pra tudo, mesmo uma mãe com o filho, que é a situação de desespero mais extrema que usamos de exemplo, normalmente.
E é isso mesmo… Assim como não dá pra desvestir um santo pra vestir o outro, não dá pra colocar a máscara em ninguém sem respirar. A internet deixou essa imagem de que autocuidado é flor na cabeça e máscara de argila no rosto, e que auto conhecimento é se ver como a pessoa mais incrível no mundo, mas são coisas tão mais profundas que fica até difícil discutir num comentário só.
De resto, espero que você esteja colocando sua máscaras de oxigênio primeiro cada vez mais!
Oi, Rê!
Eu sempre digo que o caminho é o do equilíbrio. Ser egoísta 100% do tempo é ruim, do mesmo modo que ser altruísta 100% do tempo também.
Faz parte do autocuidado observar esse jogo de equilíbrio para ver para que lado que a balança está pendendo (posso estar errada, mas eu acho que a balança sempre está mais para um lado do que pro outro) e fazer ajustes.
Normalmente isso é tão interno que as pessoas não estão olhando, mas elas sentem. Às vezes amam, às vezes odeiam esses ajustes que fazemos. heheheh
Espero que você se cuide e que tenha ventos felizes em 2023. 🙂
Um beijo,
Fê